2 de junho de 2009

A primeira história

Para inaugurar o blog e aproveitando que o assunto está fresco, lá vai uma das minhas histórias. Mesmo ouvindo a rádio, TV e comentários, que o avião que saíra do Rio de Janeiro com destino a Paris tinha desaparecido, não achei que a bomba estouraria na minha mão. Mas estorou. Eu, que cheguei ao trabalho relaxada - resultado de duas horas da aula de natação -, experimentei uma tensão nunca antes sentida. Daquelas que a gente acha que o coração vai parar a qualquer momento (sempre acho isso, principalmente às 16h, quando o fechamento da edição está prestes a começar). Mas desta vez juro que o "trem" foi feio.

Pois bem, sobrou para a repórter aqui sair à procura dos mineiros que estavam (ou estão) no voo 447. Quem dera se a lista já estivesse em minhas mãos, com todos os nomes, nacionalidades, regiões etc e etc. Não. Restou a mim a busca incansável que ora se fazia por telefone, ora pelo noticiário da TV, ora a rádio e sempre a internet (eta meio fantástico). Com apenas um nome e a cidade do indivíduo, fui atrás da família , mesmo sabendo que uma entrevista seria impossível.

Uma hora e meia de viagem, comprovei o que eu esperava: os familiares não queriam falar. É claro. Quem quer dizer algo à imprensa numa hora dessas? E, pra variar, fiquei plantada na porta da casa dos pais do desaparecido no voo e, em vez de novas notícias, xingamentos e desaforos que tive que levar para casa. Mas, como manda a tradição jornalística, não desisti. Sai andando pela cidade afora e, com algumas informações ali e acolá, cheguei a uma outra fonte. Bingo. Correria, adrenalina a mil e pronto: texto enviado.

Mas não demorei muito para repensar o papel da mídia numa situação como essa. A dor dos familiares em jogo, as perguntas cretinas e cruéis. Até o momento não se sabia o que realmente havia acontecido, mesmo que já se supunha que se tratava de uma tragédia. E nós, profissionais do meio, cientes de que o profissionalismo muitas vezes perde o bom senso, usamos a cara de pau para cumprir a obrigação de informar nem que seja por segundos. No entanto, os desaforos escancarados e levados pra casa perduram por muito tempo.

7 comentários:

  1. Oi, Lu. Adorei seu blog. Acompanho suas matérias no EM sempre. Assiste no Jornal Hoje uma multidão de repórteres colocando os microfones na cara de um rapaz que tinha um parente no voo e estava falando com o pai no telefone. Um absurdo! Senti muita vergonha da nossa profissão neste momento. Acho ótimo você fazer esta crítica sobre atuação da mídia, pois acredito que muitos colegas não fazem isso e ainda acreditam que estão certos de atuarem desta maneira tão agressiva. Um grande bj. Ana Paula

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  2. Lu, continue nesse caminho reflexivo e vc há de mudar o jornalismo!
    Amana

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  3. Ei, Lu! Adorei o seu blog! E este post "gata"! Eu fiquei até cansada com a sua correria. Tem que ter muito pique pra correr atrás das notícias quentinhas! Mas o bom é que é evidente a sua paixão pelo jornalismo. E com certeza, essa paixão se reflete no seu trabalho. Você não é uma jornalista, você é a jornalista. Parabéns pelo blog e eu já vou te seguir desde já.
    Beijos

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  4. Amiga... amei... ficou muito legal...
    Te admiro muito pelo seu trabalho...
    Seus dias tem sido corridos mesmo... mas acredito que uma horinha pra um temaki a gente sempre acha ne?! hehehehhehe
    PS: Ass irmã de coração!!!!
    Bjussssssssssss

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  5. Lu,
    Como sempre você tem o dom da palavra...mas em um país onde se vende tablóides de R$0,25 com muito sangue e mulheres peladas, peladas não, semi-nuas.
    Não podemos esperar muito, pois no final de toda a tragédia vivida pelas famílias que enriquecem os jornais e TVs o mais importante é se Belo Horizonte irá sediar algum jogo do Brasil na Copa do Mundo de 2014 (hahahaha)..
    Por isso que venha a Copa do Mundo, pois dessa maneira esquecemos as tristezas, mortes e tragédias e vendemos alegrias enriquecendo os meios de comunicação e mais ainda os milionários jogadores de futebol.
    Bjooo amoorrr

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  6. Ei Lú! Por sorte vi seu blog ontem saindo do forno! Muito bacana! Adorei!! Promovendo a comunicação com senso crítico!! Quanto a ética no jornalismo.... não sei não... "Cá entre nós", vcs, ou quase todos vcs, sempre têm um preço para vender suas palavras... mas isso mudará um dia sim, e eu to esperando... se souber o dia certo, por favor, divulgue no seu blog!! Aguardo uma conversa fiada num buteco por aí... Um grande beijo! Friche

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  7. Ei Luciane! Muito bacana seu blog, o layout está limpo e este seu primeiro post é muito interessante. Li um texto de uma jornalista que era sempre chamada para cobrir tragédias. Ela fez uma reflexão bem bacana sobre a ética no jornalismo e quem são os "verdadeiros urubus" na cadeia de consumo que envolve o jornalismo. Enfim é uma reflexão interessante, vale a pena conferir.

    www.trezentos.blog.br/?p=1583

    Abs, Clara (da pós, hehehe)

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